segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Na rua, entre os carros estacionados...

...a família estava de novo reunida.
Os primos de França, o tio de Chelas, as tias velhas do Barreiro… O avô António saiu do lar de propósito para a ocasião, embora contrariado porque a enfermeira Rita hoje quase não trazia roupa por debaixo da bata. Até os irmãos Ferreira, desavindos há 22 anos por causa da Courela do Penouco que calhara em sortes ao mais velho, compartilhavam, com aparente à vontade, o mesmo metro quadrado de passeio.
O Necas fazia as figuras do costume, contava anedotas, lembrava histórias de bebedeiras passadas. Contou pela vigésima sexta vez a história daquela ocasião em que apanhou a tia Benvinda de cuecas em baixo na despensa com o Manél. Muitos já só se riam por simpatia. Outros continuavam – não se sabe bem como – a achar piada ao relato.
De repente todos se calaram.
A tia Benvinda saíra de casa e estava a olhar para eles... a "medi-los" a todos… a ver o que traziam vestido, a ver de quem poderia dizer que estava esguedelhado, a ver qual era a sobrinha que desta vez poderia chamar esgroviada, a tentar medir o teor de alcoolémia do Necas só pelo olhar..
Subitamente aproximou-se! Pegou no avô António pelo braço e levou-o para dentro.
“Vá… deixe-se lá de coisas e venha cá dar um último beijinho à sua mulher, que vão fechar a urna”
São sempre animados os velórios da família Martins.

(publicado originalmente a 13/02/2008)